O livro Memórias Compartilhadas. Edna Domenica Merola

 Edna à esquerda e Marlene à direita 
         A escrita do prefácio intitulado Relógios Compartilhados e da íntegra do capítulo Memórias de uma Oficineira e de pelo menos um texto em todos os demais capítulos de Memórias Compartilhadas foi decorrência do planejamento elaborado no verão de 2016/2017 e executado no primeiro semestre letivo de 2017, nas Oficinas de Criação Literária que ministrou.
             Tal empreita pressupõe que a escrita é um exercício cognitivo e existencial e que a oficina é o local privilegiado para aliar o pensar, o sentir, o fazer e o interagir. Tem por objetivo fazer uso das memórias pessoais para imprimir alteridade à produção de texto.
           A teoria de papéis (MORENO, 1974) ‒ sob o viés de Merola (2014, 2015) ‒ e os estudos de Buzan (2005) facultaram a criação do Relógio de Memórias que comparece em estado de relação com a criação de personagens prototípicas.
         Os itens escolhidos para o relógio enfocam iniciações e perdas comuns à vida em sociedade. Abrangem as datas inaugurais de papéis sociais: nascimento, entrada na escola, primeiro amor, primeiro emprego, nascimento do primeiro filho, primeira vez que votou para presidente brasileiro, percepção de mudanças tecnológicas, mudança para a cidade em que mora hoje (ou outras mudanças tais como o divórcio), conscientização da entrada na maturidade, participação nas oficinas de criação literária. Enfocam ainda a perda dos parentais e a viuvez.
            Os participantes receberam a instrução de alocar aqueles itens num relógio no qual “1” representaria o ano do nascimento e “12” o ano de 2017. Os demais itens deveriam ser inseridos em ordem crescente, conforme vividos.
            A seguir, os alunos escreveram ‒ para a professora ‒ uma carta de apresentação na qual narraram o seu relógio.
      A professora elaborou sínteses das quais resultaram três personagens prototípicas ‒ nascidas, respectivamente, em 1940, 1953 e 1960 ‒ e que foram as emissoras ou as destinatárias das cartas redigidas durante o semestre, inclusive pela professora.
            A estratégia do Relógio de Memórias nas Oficinas de Criação Literária do NETI, em 2017, foi concatenada a dois outros instrumentos de ensino-aprendizagem: exercícios de imaginação dirigida e dança espontânea.
            Os exercícios de imaginação dirigida aliam alguns recursos técnicos de relaxamento e de meditação em benefício de aprendizagens inerentes à escrita criativa: ampliar a capacidade perceptiva, viver o prazer estético, usar a fantasia, concentrar-se, esvaziar a mente, abrir canais para novas possibilidades no desempenho da subjetividade.
            A dança espontânea consiste no uso de música e comandos verbais de ações que deverão ser concatenadas com a trilha sonora. Faz uso das técnicas morenianas: espelho, duplo e inversão de papéis. Utiliza as comandas de: espelhar o movimento alheio, ser modelo para o outro e inverter posições com o outro ‒ para beneficiar o humor e a predisposição à participação. Do ângulo do participante, a dança espontânea inicia pelo foco no próprio corpo, prossegue com a interação com o outro, finda com o posicionamento no círculo grupal.
            Portanto, uma vez aliada a exercícios de imaginação dirigida ‒ para induzir a criação de personagens ‒ e à dança espontânea ‒ para interferir no aquecimento para a escrita e facilitar a interação grupal, a estratégia do Relógio de Memórias demonstrou ser um “mapa” eficiente para o trabalho acadêmico memorialístico e um instrumento eficaz para concretizar abstrações e ativar a memória.

          Em Memórias Compartilhadas sou autora das cartas que trazem o desenho do relógio de memórias de vida das personagens Lucíola, Simone e Evelyn. Escrevi também cartas com as dinâmicas que apliquei em sala de aula.


Em 17/8/2017, das 19 horas às 21 horas, ocorreu, na ALESC (Palácio Barriga Verde, Rua Doutor Jorge Luz Fontes, 310 - Centro - Florianópolis - SC) uma solenidade referente ao livro Memórias Compartilhadas. Foi promovida por iniciativa de Marlene Xavier Nobre e da professora Edna Domenica Merola. A professora e algumas alunas estiveram presentes.

A escrita do livro começou em janeiro de 2017, quando a professora Edna projetou um curso em formato de esboço de livro. Em 16/3/2017 os alunos preencheram itens num desenho batizado pela própria Edna de Relógio de Memórias (Vide Adendo II) criado em janeiro de 2017. Nas semanas seguintes, professora e alunos escreveram breve autobiografia a partir do relógio de memórias. Nas outras semanas, a professora entregou as atividades personalizadas para cada um de seus alunos. Essas atividades diferenciadas eram agrupadas em três blocos temporais referentes aos nascidos nos anos 1) 1940; 2) 1950; 3) 1960.

Memórias Compartilhadas é um livro de cartas ficcionais que foi publicado, em 2017. A Postmix foi paga somente para os serviços gráficos de impressão, a feitura da ficha catalográfica e a obtenção do ISBN.
A professora pagou os seus próprios exemplares junto à gráfica já que é também autora de diversos textos constantes do livro. 
Cada aluno pagou os serviços da gráfica referente à quantidade de exemplares de que julgava precisar para presentear amigos, familiares, professores. Ninguém recebeu comissão das vendas de outrem. A concepção do livro não foi feita considerando uma tiragem superior a 200 exemplares. Os autores, obviamente podem usar seus textos pessoais autorais em quantas outras obras julgarem oportuno.
O livro não foi concebido com o intuito de obtenção de lucros. Pelo contrário, almejava-se que os participantes desenvolvessem a autoestima e fortalecessem a capacidade de criar laços com colegas das oficinas na modalidade Educação Permanente. (Vide Adendo III).
O grupo de autores recebeu por doação: a confecção da capa criada por Camila Ribas Pereira, assim como a criação conceitual do livro e sua editoração   (Vide Adendo I) ‒ das mãos de Edna Domenica Merola  ‒ que acumulou ainda os papéis de professora, oficineira e de autora do livro
O livro traz prefácio técnico-pedagógico assinado por Edna Domenica Merola.
São seus capítulos:
Memórias de uma Oficineira (de autoria de Edna Domenica Merola);
Memórias de Lucíola (de autoria de Edna D. Merola; André Wendhausen Pereira Filho e outros);
Memórias de Simone (de autoria de Edna Domenica Merola; Marlene Xavier Nobre; e outros);
Memórias de Evelyn (de autoria de Edna Domenica Merola; Fátima M. Zampieri e outros)
Cartas em Posfácio (de autoria de Edna e outros) que traz alguns recortes do que foi vivido pelos compartilhantes da feitura do livro, nos meses de março a junho de 2017.

CURRÍCULOS DAS AUTORAS E DOS AUTORES CITADOS

Edna Domenica Merola ‒ organizadora de Memórias Compartilhadas ‒ é professora, psicóloga, psicodramatista, mestre em Educação e especialista em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa. Coordenou Oficinas de Criação Literária para idosos de 2013 a 2017. É autora de: Aquecendo a Produção na Sala de Aula (Nativa, 2001); Cora, Coração (Nova Letra, 2011); A Volta do Contador de Histórias (Nova Letra, 2011); No Ano do Dragão (Postmix, 2012); A professora “X” Maria e a escritora Osmarina (Postmix, 2013); De que são feitas as Histórias (Postmix, 2014); Diálogos da Maturidade (Postmix, 2016). Em Memórias Compartilhadas, Edna é autora do capítulo Memórias de uma Oficineira, participa de Memórias de Lucíola, de Memórias de Simone e de Memórias de Evelyn; assim como de Cartas das Autoras e dos Autores e de Cartas em Posfácio (making of do livro ou recortes do seu processo de feitura).

André Wendhausen Pereira Filho nasceu em Araranguá (SC), na década de 40. É casado, tem dois filhos e uma neta que é sua atual paixão. Dentista sanitarista, professor aposentado da UFSC, Mestre em Odontologia Social e Preventiva. Licenciado em Letras Alemão pela UFSC. É cinéfilo, além de ser apaixonado por música e leitura. Faz caminhadas: já fez o caminho de Santiago de Compostela (Espanha). Faz parte de um Grupo de Canto, Conversação de Alemão, além das Oficinas de Criação Literária.
Em Memórias Compartilhadas André participa de Memórias de Lucíola e Cartas das Autoras e dos Autores.


Maria de Fátima M. Zampieri nascida em Florianópolis, pequena ilha perdida no mar. É enfermeira, docente aposentada do Departamento de Enfermagem da UFSC. Doutora e mestre em enfermagem pela UFSC. Especialista em Obstetrícia Social e Perinatal na UNIVALI, Especialista em Administração dos Serviços de Saúde Pública na UNAERP. Organizadora e autora de: A melodia da humanização: reflexões sobre o cuidado no processo de nascimento, em 2001; Enfermagem na atenção primária de: Saúde Coletiva e da Criança, em 2007; Enfermagem na Atenção Primária à Saúde da mulher, em 2010. Publicação de 34 artigos completos em revistas indexadas na área de Enfermagem Obstétrica. No livro Memórias Compartilhadas, Maria de Fátima participa de Memórias de Evelyn e Cartas das Autoras e dos Autores.

Marlene Xavier Nobre nasceu em 14/08/53, em Florianópolis ‒ a bela ilha da magia ‒ numa família de artistas e de carnavalescos, desfilou por várias vezes nos carros alegóricos e de mutações. Fez os carnavais de 2011 e 2012. Foi presidente da sociedade carnavalesca Granadeiros da Ilha. É artesã, dedica-se a trabalhos manuais, bolos artesanais e pintura em tela. Gosta de música, teatro, cinema. E dedicou sua vida para a formação da família. Escrever é o seu único vício. Realiza-se nas Oficinas de Criação Literária do NETI. No livro Memórias Compartilhadas, Marlene participa de Memórias de Simone, Cartas das Autoras e dos Autores, Cartas em Posfácio.



ADENDO I 
Distinções e definições mais do que necessárias


Contratar serviços gráficos de impressão é totalmente diferente de contratar serviços de editoração e de contratar serviços de criação conceitual da obra
Imaginemos que um grupo de pessoas quer ver seu texto publicado e resolve fazer uma coletânea (muitas vezes erroneamente chamada de antologia). Optam por contratar um editor para prover tudo o que um livro necessita além dos serviços de impressão gráfica (serviço feito no conhecido processo de cópia fotográfica, ainda que aprimorado.).  Esse editor escolhido terá de receber os trabalhos, selecioná-los , determinar o número de páginas que cada autor ocupará, receber e alocar os currículos de cada um, e provavelmente escrever o prefácio dessa coletânea.
Nos serviços de editoração de uma obra individual, por exemplo, a figura do editor contratado é idêntica a de quem analisa os originais recebidos para avaliá-los e, se necessário, propõe modificações; é responsável por  sugerir inclusões e exclusões; solicitar reformulação de tópicos, tais como o título do livro, a ordem dos capítulos, o tamanho dos capítulos. Sugere a necessidade ou não de um revisor e estabelece os limites de sua atuação, conforme o conceito de obra adotado pelo autor. 
Os serviços de criação conceitual da obra abarcam todas as prerrogativas da editoração mais o mister de criar o projeto de escrita do livro, assim como o conceito do “setting” onde ela pretende se inserir. Em projetos que visam lucro, os serviços de criação conceitual abrangem o conhecimento do filão do mercado editorial no qual quer se inserir. 


ADENDO II - A estratégia do Relógio de Memórias

A fundamentação teórica que respaldou a criação do Relógio de Memórias já  foi descrita nos trabalhos de Merola (2014, 2015). São ainda fontes bibliográficas dessa criação Buzan (2005) e Moreno (1974 e 1978).



REFERÊNCIAS

BUZAN, Tony. Mapas Mentais e sua Elaboração. São Paulo: Cultrix, 2005.


MEROLA, Edna Domenica. Pedagogia do Psicodrama: a ação do grupo no desenvolvimento de papéis da pessoa idosa. Monografia de conclusão do Curso de Especialização em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa. Orientadora: Maria Celina da Silva Crema. UFSC, CCS, N.E.T.I., 2015, 46 f.
____________ De que são feitas as Histórias. Florianópolis: Postmix, 2014.


MORENO, J. L. Psicodrama. 2 ed, São Paulo: Cultrix. 1978.
___________ Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. Trad. bras. São Paulo: Mestre Jou, 1974.



ADENDO III - 
Atitudes esperadas da (o) aluna (o) com a experiência de participação da escrita e publicação de um livro



COMPORTAMENTOS ESPERADOS
1
Elaborar ensaios abertos das apresentações artísticas para eventos que pretendam promover a obra. Agendar a participação de todos nos tais ensaios.
2
Aprender a revisar seus próprios textos e aprender a diagramar.
3
Aceitar a forma de escrita dos coautores, sem ater-se ao domínio da norma padrão ou estilo próprio. 
4
Honrar os limites do que pode ser exigido ou não sobre o que foi anteriormente combinado, principalmente, quando isso se der por meio escrito no qual conste sua assinatura.
5
Avaliar os esforços das lideranças que cumprem prazos estipulados pelo próprio grupo e regras estabelecidas por instituições.
6
Ler o livro inteiro do qual faz parte como escritor (a) e saber tudo sobre ele (gênero, ficha catalográfica, direitos autorais, ética de compra de serviços gráficos). Reconhecer que recebeu por doações: a editoração, a capa e a concepção do livro. E que portanto não deve tratar ninguém como empregado pessoal. 
7
Ter sentimento de gratidão para quem trabalhou por você, seu sucesso e até pela possibilidade de você efetuar seu marketing pessoal.
8
Respeitar horários e hierarquias.
9
Valorizar o processo e o produto da obra coletiva.


ADENDO IV

Relato de experiência. Fátima Mota Zampieri.

As oficinas que geraram a produção de “memórias compartilhadas” foram muito bem conduzidas pela Psicóloga Edna. Foram fundamentais para trabalhar a questão cognitiva, para problematizar e resgatar momentos importantes de nossas vidas que estavam dentro de baús em nossas memórias.  Propiciaram revisitar tais momentos e re significá-los, refletir sobre eles e fazer planos para o futuro. Elas oportunizaram, principalmente, conhecer diferentes pessoas e suas realidades, cada uma delas com suas peculiaridades e com seu jeito de ser. 
As narrativas dos participantes contribuíram para que todos se fortalecessem como pessoas e se realizassem. 
As dinâmicas corporais e do espelho favoreceram que cada um se olhasse por meio do outro.  
As oficinas apontaram também a importância de desenvolver atividades grupais, de se atualizar, de rever as diferentes trajetórias, contextualizando-as e conectando-as aos fatos sociais, culturais, econômicos e políticos que representam as diferentes épocas. Ajudaram a compreender como viver a terceira idade e a importância de aproveitar cada dia com saúde mental e física. Permitiram desvelar ansiedades, sentimentos, limitações e superações.
Os encontros realizados mostraram que cada um tem a sua singularidade, tem potenciais que precisam ser reconhecidos e valorizados e que suas produções e vivências, quando compartilhadas, contribuem para o crescimento pessoal e, sobretudo, para o crescimento do outro.
O estímulo ao uso da tecnologia propiciou a inserção dos participantes em redes de comunicação e no meio social.
A produção de textos em um curto espaço de tempo aponta que as dinâmicas utilizadas estimularam a criatividade e o protagonismo dos participantes; denota organização por parte da professora, que merece os parabéns, e um grande empenho de todos os envolvidos.
Gostei muito de participar de todo este processo. Aprendi e cresci com cada relato e narrativa. Aprendi a respeitar ainda mais as pessoas e seus sentimentos.
Acredito que devemos aproveitar todos os momentos para refletir sobre nossas ações e decisões; rever condutas e, se necessário, transformá-las com vistas ao desenvolvimento pessoal e grupal.


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